El'Condor de Oliveira
Ciranda de mim
Da areia já fui o
grão, peneirado entre milhões
de um orgasmo gozado,
um feto invisível
apenas um embrião com
formato de girino
no astral estava
escrito que seria um menino
um leão raivoso, lá
do mês de agosto.
Do cometa apenas o pó
dessa constelação astral
que no gozo já era
recém preso ao cordão da aparência
na ciranda cirandei,
fui pião bambeando
nos rodopios pelo chão
mais na roda cirandei
na palma de uma mão.
Já nascido fui criança
que mamava no choro
mais sempre havia
consolo, rastejei como cobra
no tempo que
engatinhava, o destino prevendo, teria de lutar
que o planeta sendo
grandioso poderia até ter o tempo
mas não teria o lugar
por que no espaço infinito
um esperma é só o pó.
Na infância decadente
de uma ditadura febril
franzino corria de mim,
com a magreza esquelética
da barriga grande
vermil na soltura do vento
descalço nos caminhos
onde havia os espinhos
ai, como cirandei com o
fértil cocô dos caprinos
fui Rivelino, um craque
no jogo de futebol com dedo,
na voz de Valdir
Amaral.
Ai, como cirandei indo
à escola, mas não aprendia o bê-a-bá
dos beliscões e da
palmatória, cirandei no rouba bandeira
no jogo de bola de meia
fui afamado com ela petecando,
na bolinha de gude
quase não bilava, apenas chorava
como cirandei com
badoque calangueando a triste vida.
Cirandei com o feixe de
lenha e com a lata d'água na cabeça
e na sabatina de
tabuada que com as mãos e olhos inchados
nunca acertava nove
vezes nove e nas noites escuras
brindava a vida com os
vaga-lumes
quando um jipe passava
as sombras viravam tela de cinema
e nas noites enluaradas
fazer o mestre mandar
na ciranda de roda
cirandar, do mé-mé-quer-pão
correr desembestado até
cansar.
Cirandei também nas
pescarias para pegar piabas, quando
muito pegava era
sanguessuga
como catei gabiraba e
umbu, nisso cirandava
mais o tempo muda e a
gente adolesce sem saber
e fica grande sem
crescer, presta o serviço militar
vira homem e some pra
começar outro cirandar.
Fui pavio do barbante
segurando um cordel
na vida de um poeta que
vive errante
o crime que comete com
o lápis ou a caneta
na máquina de escrever
ou mesmo no digital
um crime sempre comete
é o crime da poesia
seguindo nesta ciranda,
quantos cirandeis não narrei.