Postagens populares

Literatura de cordel

A peleja do ateu com o cristão

A vida é dura pra quem é mole
Assim disse o ateu para o cristão
Não senhor, Deus quer que esmole
Pois, só ele é capaz da compaixão
Um homem forte, não me amole
Não tenho tempo para um pidão.

Vejo, uma enorme fortaleza
Diz o ateu: deixa de preguiça
Desde que nasci é esta tristeza
Rebateu o cristão, um tiriça
Vá dê um fim nesta tristeza
E para com esta cobiça.

Não sou, um homem tão forte
Diz o cristão, grande molenga
Mostra ser, sujeito de porte
Rebateu o ateu, deixa de lenga
Pois, pra quem quer, o azar é sorte
Tua esperança, está uma pendenga.

Esta tua fé, gera uma crença
A ignorância do fanatismo
De viver na oculta presença
De seres mortos em santismo
Vivo esta vida na festança
Sem pensar nesse infinitismo.

                   1

El'Condor de Oliveira

Morrer é a maior sabedoria
Passar mais um ano, que burrice
Vejo que o cristão se vangloria
Viver é bem mais que a velhice
Pra apego à aposentadoria
Morre orando na caretice.

Motivo da nossa discórdia
Por que, Deus é a única verdade
Entraríamos numa concórdia
Se soubesse, o que é caridade
Pois, só Deus tem a misericórdia
Ateu não entende a cristandade.

Leva esta vida de privação
Povo metido e presunçoso
Homem que crê na tal salvação
Muito pobre, porém vaidoso
Só reage com a fé da tradição
Vive o cristão esperançoso.

                  2

A peleja do ateu com o cristão

Tudo por que Deus, me provém
Eu creio, pois minha fé vencerá
Pois, só ele me basta e convém
Somente um crente sabe esperar
Espero e por tudo, digo amém
Tenho prudência, Deus proverá.

Pedinte muito desgracioso
Tudo isso é emotivo e sem razão
Vejo que és, um crente maldoso
Um ser ignorante e vacilão
É, um homem muito pretensioso
Tua crença não dá uma vazão.

O ateu por si só, se condena
Tua alma é a pureza da podridão
Não rio de você, tenho pena
Se clama ateu, mais está perdidão
Uma mente que se envenena
Quando morre, recebe o perdão.

Por enquanto, não caiu acamado
Um ateu vive mais na escuridão
Por lucífer sendo atacado
Sucumbindo vai, na imensidão
Sujeito sujo de pecado
O dinheiro, te dá este visão.

                   3

El'Condor de Oliveira

Uma peste muito ambiciosa
Mendigando nessa tristeza
Pessoa faminta e maliciosa
Você encontra em Deus fortaleza
Com uma vida desgostosa
Na mais desgraçada pobreza.

Ser cristão, que  baita aberração
Sou osso e carne, como a gente cristã
E não vivo nesta perdição
Também não levo vida espiã
Apenas não creio nessa ilusão
Se engana, não pertenço ao Satã.

Peço pra não morrer devendo
Vivo pra chorar um filho teu
Por preço nenhum, eu me vendo
Vive na riqueza, um fariseu
Que por esta esmola, eu me rendo
No entanto, não sabe nada ateu.

Quem, tu pensas que é para julgar
Pobre cristão, me acha pecador
Quem vive buscando um lugar?
Nada é, só um mísero jogador
Que vegeta esta vida vulgar
Só é um esfarrapador pescador.

                        4

A peleja do ateu com o cristão

Envelhece sem gerar varão
Vivendo uma vida maldita
Mesmo assim, se acha forte mourão
Sei que tem casa, onde habita
Moderno e luxuoso casarão
Lugar que ninguém, te visita.

E você que vive ao relento
Morre por mim, que sobrevivo
Passa os dias comendo vento
Miserável! Morto um ativo
Um cego de olho remelento
Cristão não tem onde caí vivo.

Sujeito sem fidelidade
Por Deus, ateu devia ser grato
Te deu a vida na integridade
Embora, você seja um chato
Em vez dessa infidelidade
Deus, o ama homem muito ingrato.

Come o lixo do chão pisado
Não passa de um falsário
Mendigando a fome passado
Só pode ser coisa de otário
Carregando uma cruz, chagado
Um cristão e vive no calvário.

                     5

El'Condor de Oliveira

Só por que tem muito dinheiro
Nega que a tua cruz é pesada
De que adianta ter um veleiro
Pior que eu leva a vida vigiada
Vive em vigilância o dia inteiro
Tem iate e a vida atrapalhada.

Versa falando do capetão
Querendo dá uma de profeta
É um esfarrapado pobretão
Cristão, o teu julgo não me afeta
Vaga se achando que é um ermitão
Homem ruim, suma, desinfeta.

O ateu, me chamando capeta
Satã chora como fedelho
Pensa no que tem na maleta
Arrancando da capa coelho
Um nobre fazendo careta
Um ateu que não dobra o seu joelho.

Come e dorme na maior preguiça
Achando que esmola é nobreza
Um esquelético e tiriça
Cristão rico e doente pobreza
Se corrói de tanta cobiça
Sonhando com a tal riqueza.

                      6

A peleja do ateu com o cristão

Implorando um grão de amizade
Rico que vive na tristeza
Ainda critica a cristandade
O ateu rico pisa na pobreza
Plantando grande inimizade
De cuia na mão e tanta riqueza.

Braço estendido, ele é assustador
Se acha um sábio e vive esmolando
Restos excretados pelo roedor
Cheirando mal  e vai assustando
Vejo, um homem aproveitador
Entre nós, quem vive chorando?

Deus, mantém divina profecia
Eu conquistei com meu trabalho
Sendo rico, quando falecia
Minha vida nunca teve atalho
Então, nada disso merecia
Jamais, alguém quebrou o meu galho.

Tudo foi à força que caleja
Vou para o inferno infelizmente
Ano a ano, sofri muita inveja
Mais, se eu repartisse igualmente
Sofrendo por quem esbraveja
Sou santo, disso creio piamente.

                       7

El'Condor de Oliveira

Vida de muita bebedeira
Foram mais de mil desenganos
Pensando somente besteira
Sofri com homens desumanos
Embebido por baboseira
Muitas promessas, mais enganos.

Enquanto, a vida que passa
Me transformei neste esmolento
Bêbado fedendo a fumaça
Você não entende sofrimento
Mendigar gole de cachaça
Vida pouco, veio o esfriamento.

Eu nasci cristão e assim vou morrer
Nessa nunca tive guarida
Podia ser ateu, tanto é o sofrer
Sou como que a margarida
Vou vegetando só por viver
Sem jamais desistir da vida.

Não nasci ateu, mais tive a vida
Brigando por um sol nascente
A família foi repartida
Minha mãe, logo se foi doente
Meu pai também numa batida
Fiquei só, meio pré adolescente.

                      8

A peleja do ateu com o cristão

Então, você nascente um cristão
Deus, nos deixou os ensinamentos
Para que vivêssemos irmão
Segundo a lei dos mandamentos
Leia a Bíblia, ela é a nossa relação
Para termos bons pensamentos.

Eu não sigo o homem de Belém
Igreja pra fazer turismo?
Na vida não fiz mal a ninguém
Esta é minha vida no atéismo
Só acho que temos que amar alguém
Faço isso, com veemência e altruísmo.

Sempre tive uma sã consciência
Nunca estive na promotoria
Não matei, mantive a paciência
Nunca sofri corregedoria
Não roubar sempre é a minha ciência
Na rua aprendi com sabedoria.

Você é um homem muito consciente
Seguiu a lei como um puritano
Você é um homem muito prudente
Parece um monge tibetano
Demonstra ser muito paciente
São atos de um bom samaritano.
                     
                        9

El'Condor de Oliveira

Só não entendo esse fanatismo
Gente morrendo por religião
O milagre virou modismo
O povo faz peregrinação
Com louvor e espiritualismo
Gerando guerra, onde irmão mata irmão.

Isso vem, desde a pré-história
Quando o fogo, o homem descobriu
Era macaco sem memória
Ou da criação de Adão e Eva proibiu
Na pedra ou no ferro à história
Sapiens ou neanderthal que sumiu.

Vem de lá do pastor campestre
Dentro de sua pátria crescendo
Tecendo com toque de mestre
Rebanho logo ia decrescendo
Morrendo vai a cada trimestre
Os bandidos aparecendo.

Da vinda do fogo ao bandido
Mais, quem em paz pastorava
Viu seu rebanho diminuído
Ia protegendo onde morava
Logo, armou-se sentindo traído
Pelo irmão, que a ovelha roubava.

                      10

A peleja do ateu com o cristão

Caro cristão é isso que não entendo
Que pra viver tenho que matar
E o mais fraco acaba perdendo
Este é um nó difícil de desatar
Loucura de gente cedendo
Esta guerra não posso acatar.

Você crê nesse Deus permissivo
Não sei se é pecado ou racional
Só conheço esse ser altivo
Para crê sou muito passional
Nesse Deus muito punitivo
E esse povo tão devocional.

Meu caro ateu, não sei te explicar
Mais desde os primórdios da criação
Ele viveu sem falsificar
Partiu da tribo do grande Abraão
Como posso te exemplificar
Com a voz estrondo de trovão.

Essa não seu moço Abraão e Sara
São vilões da mais longa guerra
O casal não gerava a vara
Original dono da terra
O próprio filho deserdara
Não entendo cristão, quem desterra.

                      11

El'Condor de Oliveira

Mais há a lei do infinito perdão
Para toda à humanidade
Não importa, seja ateu ou cristão
Seja velho ou na mocidade
Deus há de perdoar, pois é a missão.
Pois, para Ele nunca há idade.

É a herança da antiguidade
Deus, deu o livre arbítrio ao homem
Lá ou aqui nessa modernidade
Pois, somente os crentes pães comem
Com tanta espiritualidade
Da carne que nas bocas somem.

Pobre cristão o convencimento
Fanático e muito ignorante
A dura pedra do cimento
Mesmo cérebro de um elefante
Razão desse esclarecimento
Como perdoar um assaltante.

As mentes do mal prevalecem
Por que o cristão, pensa em capeta
Nos humanos estabelecem
Rouba, mata e pede chupeta
Nos pobres homens que encarecem
Enquanto, o corpo se engaveta.

                     12

A peleja do ateu com o cristão

Vou ficando aqui nesta praça
Esmolando pelo pão do dia
Levando a vida sem graça
Comendo o resto, que veio da pia
A vida de muita desgraça
Perambulando por esta via.

Aqui na praça vou ficando
Sem saber qual o meu destino
Um pouco de amor esmolando
Comendo do pão do divino
Que recebido trabalhando
Segurando a via do meu tino.

Por aqui na praça vou ficar
Esta vida sem graça levando
Para o grão do amor frutificar
Com raça sempre batalhando
Condenada alma a gastrificar
Fedorento odor perfumando.

Continuo no mundo perdido
Sem amor, sem família, sem paz
Sou um humano muito sofrido
Vou andando, pois ainda sou capaz
Mesmo com coração partido
Dessa sina, que só Deus desfaz.



Na banguela do Brasil

É uma coisa que não se explica
E vem muito dante d'eu nascer
Uma misteriosa e filosófica
Razão que faz gente um mudo ser
Racionada inteligência apática
Evolução darwiana a saber.

O ser nasce mole e pendente
Da guarida pra ganhar pão
Sofre por ser muito carente
Pois, Darwin não explicou tal ação
Nem mesmo Adão o pó referente
Filosofia vã da decepcão.

Gerou Hércules como um mito
Ser forte e de rara beleza
Gerou também eu que vomito
E sorridente com certeza
Banguela boca vazia imito
Sugando mama cheia de leveza.

Glândula de puro e saudável
Esse branco que me deu a vida
Vindo de uma mulher amável
Seio farto pra fluir a comida
Néctar líquido sustentável
Dando saúde a recém-nascida.

Leite jorrando vai o nascido
Ganhando o peso da evolução
Trauma primeiro é gaurnecido
Néctar descendo pela sucção
O leite que nunca é vencido
Sem dente ri de contentação.

A mãe dá o peito ao ser amado
Para crescer forte e saudável
De bucho cheio está saciado
Mãe não nega mama leitável
Depois, dorme meu anjo mamado
No leito deste colo afável.

Como num passe de mágica
Uma coceirinha danada
Chorosa, doentinha, trágica
De súbito, fica zangada
Tristeza, fica dramática
Todos sofrem, mãe desolada.

O bebê enjoadinho e molenga
Não percebeu que estava doente
Achou que o bebê queria denga
Mãe não entendeu o primeiro dente
É primeira viagem, capenga
Ele rasgou a gengiva ardente.

É espetacular, fenomenal
Filosofia não explica, ciencia
Rasgando o nervura gengival
Dente nasce choroso e urgencia
Inferno de dor descomunal
Mãe zelosa acode e gerencia

Nu surgiu Adão lá no paraíso
Pedra filosofal barrenta
Nascer, chorar será preciso
Um dente nasceu hoje, aguenta
Arcada doída, mãe lamenta
É a evolução, logo um sorriso.

Sei que Darwin espécies estudou
Não sei, se da arcada dentária
Das sub-espécies nada narrou
Vida humana refratária
Da espécie gabiru não contou
Sina classe hereditária.

Entrei em mãe, como cria emergente
Cresci no seu ventre fecundo
Gabiru classe de baixa gente
Filho fruto do amor profundo
Pequenino grão da semente
Mãe chorou, gemeu e eu vim ao mundo.

Ela disse, para que eu viesse
Evoluiu na vida de gente
Para que um dia, então tivesse
Deste futuro, o meu presente
Mesmo que a morte desfizesse
Desta dura infância carente.

Há passos lentos vou evoluindo
Dente nascido, agora é pra andar
A vida de criança vai fluindo
Feliz ao léu o tempo comandar
Passar mundos, sonhos sorrindo
Da evolução de ter que viajar.

Passar a sofrer pelo embargo
Tropeça a carne bem fraquinha
Apesar do sorriso largo
Pegando as pedras de caminha
Onde há espinho solto e amargo
Lutando por cuia de farinha.

Uma criança que vai evoluindo
De fome cada dia fininho
Desnutrido sempre sumindo
Tropeça as pernas no caminho
Suando o acre azedume fundido
Bucal carniça do dentinho.

Pisa este solo sujo e imundo
Herdado do passado doente
Este chão que é teu, pisa fundo
Primaveris dedos somente
Vai criança descobrir o mundo
Caminhar por este chão ardente.

Extravagância da vindoura
Idade que faz fuga a rima
Vida do medo e matadoura
Devastada pelo ar e o clima
Da dor da cárie esmagadoura
Do boticão que o zói lacrima.

Sentir na hora da anestesia
A fuga da infantilidade
Escapando da paralisia
Vivendo na tal mocidade
Deixando de lado a fantasia
Para vivenciar a crueldade.

Boca de cancela sorrindo
Hábito de criança mamando
Não é mais constante vê-lo rindo
Com o apego da mãe educando
Desse aprendizado evoluindo
Via o Brasil alfabetizando.

Pois vivendo de esmola corre
Risco de não vingar o sonho
É que um gabiru, logo morre
Desdentado e muito tristonho
Sina desigual ou por porre.
Banguela de riso bisonho.

Nas terras de Iracema um pomar
Vivendo com dificuldade
O Ceará povo nobre pra amar
Sem dentes na menor de idade
Corre e perambula aqui e acolá
Faminto vai na mocidade.

Fui e cheguei no estado potiguar
Desdentado morar comigo
Bêbado, deixou a vida minguar
Ele, banguela um grande amigo
Rio Grande do Norte, que lugar!
No Natal, disse: ceia eu contigo?

De linguajar muito rico
Vindo lá do extremo do Seixas
Terra macho, fiquei eufórico
Paraíba, que não guarda queixas
Terra de um povo folclórico
Desdentado riu das madeixas.

Sem dentes rico de cultura
Rima magestral no repente
É forte na monocultura
Com a viola na mão é prudente
Mais sem dentes vai à sepultura
Pois, foi a óbito com dor de dente.

Banguela tem em todo lugar
Chão pernambucano conheci
Uma montanha solta sem lar
Sou sem dentes, desde que nasci
Nada importa, não como manjar
Decretou o meu fim, permaneci.

O severino o poeta contou
Escapou! morreu na calçada
Corpo anjo, pobreza relatou
Quem nasce de sina traçada
Vai remói o que a gengiva plantou
Uma prótese desgraçada.

Sentei com marajá demente
Comendo manjares, que encanto!
Vi, um tal de homem presidente
O mesmo que tirou o meu manto
Garboso e muito sorridente
Estava em Alagoas pra espanto.

Saudei um desdentado alagoano
Políticos natos, marechais
Sem camisa por desumano
Vê jorrando sangue que manchais
O manto desse tal fulano
Todos deodoros homens chacais.

Analfabe... de outros estados
Eram iguais, os daqui, enojei
Continua a sina desdentados
Por políticos melos, xinguei
Quando homens eram velados
Fugi numa banguela e cheguei.

Foi em Sergipe que chorei triste
Desdentado comia banana
Com mão cheia de farinha e insiste
Votando no homem sacana
O desgraçado ainda persiste
Enganando gente bacana.

Desprezado desde a nascência
Sendo já o caminho primeiro
Para à tomada de consciência
Que Cabral deu um tiro certeiro
Nasceu a Bahia polivalência
De um Brasil gigante e trigueiro.

Com esse desprezo sofreu a ira
Do indígena nu, que em paz viveu
Sofreu desventura e mentira
Caiu no engodo do espelho e deu
Pra Cabral o paraíso, um traíra
Pois, lhe aprisionou e também vendeu.

Foi nesse estado fantástico
Agosto, El'Condor nasceu doente
Mais preso a sina foi elástico
Na Bahia de pouco vivente
Morreu Piuta e foi no plástico
Baiano sem casta vai recente.

Viveu um político de curral
Distribuidor de dentadura
Que fazia comércio em funeral
Brigou duro pro ditadura
E violou o senado federal
Ele se foi numa atadura.

Por todos lugares que passei
Não vi a obra de Darwin evoluir
Adão não nasceu do barro, sei!
Se Freud explicar sem confundir
Três não fizeram nada dancei
Vi tanta boca banguela fluir.

Em Minas Gerais descansei, uai!
Viajei, pau-de arara banguela
Com pneu careca do Paraguai
Dormi na pousada de ruela
Dona desdentada do Uruguai
De susto, que quebrei a baixela.

Fui ao Espírito Santo rezando
Pra dor de dente passar logo
Por que a sorte estava chegando
Mineira falou um monólogo
Um hálito ruim baforando
Perdi o namoro sem diálogo.

No Espírito Santo um banguela
Jogado na sarjeta doente
Ficou ali deitado na ruela
Morrendo pela dor de dente
Sangue pinga feito aquarela
Chaga situação deprimente.

Por está no Espírito Santo orei
Um candidato fazia procissão
Vendo tantas bravatas observei
Tal dizia que depois da eleição
Sem ter saída, na praça parei
Vi o homem debulhando oração.

Quando passou a eleição fui embora
O candidato eleito sumiu
Aos pobres eleitores e agora?
Foi uma enrolação , o homem mentiu
Ninguém viu o sujeito caí fora
Desapareceu ao vento, fugiu.

Peguei carona num caminhão
Motorista foi companheiro
Dois carros, um ia na contramão
Destino era o Rio de Janeiro
Na banguela ia um, outro sem ação
Cheguei no mês de fevereiro.

Magro e muito faminto, fui à praia
Mendigos lotavam o calçadão
Ganhei um pão de um homem de cambraia
Mais, outro desdentado abriu a mão
Saia moço antes que a vida lhe traia
E seja preso como ladrão.

Correndo enveredei na viela
Na cidade de São Sebastião
Que maravilha de favela
Um tiroteio perdido, é ladrão
Não sei, mais cheguei na capela
Entrei e escondi dentro dum caixão.

Nem amanheceu ressuscitei
Saí murchinho, feito um desertor
Boca ressecada desatei
Desdentado em fuga sem motor
Uma experiência que não gostei
Fugi da terra do redentor.

Estava me alfabetizando
Por estrada preta e comprida
Não sei orar, mais me vi rezando
Por que cheguei em Aparecida
Misturei ao povão mendigando
Foi peregrinação sofrida.

Abastado, feliz despreza
Degredado e banguela em embolia
Mais analfabeto que preza
Pendente da dura desvalia
De boca desdentada reza
Na maior decepção dessa folia.

O pai que um dia, assim profetizou
Sã Palo, é terra que fio chora
Pai não soube que seu fio esmolou
Que fugiu da fome e que agora
Está bem doente e o dente estragou
Vivendo de esmola, onde mora.

Aqui circula muito dinheiro
Todo que chega tem seu direito
São Paulo lugar forasteiro
Nem todo mundo tem respeito
Lugar que corrói por inteiro
Na indigência morre o sujeito.

Vi morador que não era gente
Em um casebre de madeira
Peito chia, mísero indigente
Filho chora por mamadeira
Outro esperneia com dor de dente
Jogado em cima de uma esteira.

Com repulsa fui pra Brasília
Lugar de corruptos drásticos
Cidade de grandiosa valia
Com seus discursos dramáticos
Palácios elefantásticos
Por esses homens o país falia.

Brasília terra artificial
Povo à margem da sociedade
O pobre sofre da dor social
Migrante perdeu a identidade
Usando uma prótese dental
Candango que construiu à cidade.

Vivendo à margem da gloriosa
Surgiram cidades distritais
Rodeando à Brasília grandiosa
Seguiram favelas federais
Construída à força religiosa
Exerce o poder sobre os currais.

Doeu ver tanta gente sem dentes
Fui embora do antro de perdição
Daqueles satélites doentes
Sobrevivem da especulação
Políticos ladrões mercantes
Com palavras de profanação.

Por sermos país de analfabetos
Povo corrupto de nascência
Até os ' freudes ' explicar quietos
Darwin não dedicou a saliência
Saiu da política dos guetos
Ferindo os dentes da consciência.

Saí das terras de Goiás correndo
Os sem pátria, povos loteados
Diminuídos e estão morrendo
Um gravata, nos fez calados
Por lá muitos índios sofrendo
Foram por posseiros violados.

Me senti muito humilhado
Em Mato Grosso cheio de canal
Onde as paraguaias no telhado
Plantava tudo, até bananal
Outro no sul todo trilhado
Então, me dirigi ao Pantanal.

Pesar dos desdentados crentes
Entre as riquezas de culturas
Eles serão sobreviventes
Que terão sorte nas futuras
As gerações estão presentes
Pois, querem outras aventuras.

Seguindo o Araguaia desembarquei
No mais novo estado da nação
Tocantins, Goiás sangrou, confirmei
Foi uma transitória de emoção
Foi muito difícil não suportei
O dente atropelando a razão.

Vejam só fui atrás da salvação
Parecendo que não sou gente
Que vivo indigno nessa nação
Até pareço um indigente
Fui anestesiado com um tição
Sem documento, sem parente.

Banguela na solidão visa
Amarrado jogado as traças

Me puseram uma camisa
Calaram-me usando mordaças
Dente doendo e um homem avisa
Sem grito, ponha as cordaças.

Dolorido, me soltei e fugi
Entrei na fila que embarcava
Pra Belém Pará, de dor mugi
Desdentado desembarcava
Sorriso gengival, eu engrugi
O dente com bafo sangrava.

Não há graça, o que vi no Pará
Desgoverno na terra de Iara
Índia banguela tinha por lá
Vestindo mine saia e de tiara
Uma criança nua, mandou entrar
Banguela e prenhe de quem criara.

Foi pra não sofrer demasiado
Uma saga urgente, eu no Amapá
Quase fico louco entediado
Quando, levei um susto de lascar
De um banguela mudo, calado
Horror! desdentados em Marabá.

Em Roraima  fiquei acamado
A população de lá sambou
Nem viram que sou desdentado
Como loucos riram me mangou
Um riu e falou, você é engraçado
Na praça banguelas me zombou.

Na capital Boa Vista, eu e um índio
Prosa não entendia, era perversa
A dor de dente e o asco, deu tédio
O homem quis puxar conversa
Mais a dor de dente encheu de ódio
Me perguntou. Como se versa?

Com esse linguajar matuto
Fui até Manaus, na Zona Franca
Vi gente de Freud, Desmotuto
Arrancando dente na tranca
Eram pajés, um muito astuto
Puxava o dente na atravanca.

Fugi daquela pajelança
Mais não escapei do tiradentes
Darwin evoluído, encheu a pança
Depois, topei com botos doentes
Mata adentro o batuque e a dança
Os índios perderam os dentes.

Entrei numa gaiola e fui embora
Pelo caudaloso Amazonas
Com muita fome chupei amora
Gaiolão funcionava três zonas
Foi viagem de muita demora
Todos cansados forrou as lonas.

Acordei no Acre em meio ao seringal
Notei, Chico fez seguidores
Entrei na mata e era um pantanal
Fui atacado por predadores
Corri louco e caí num urtigal
Viagem marcada pelas dores.

Fortes bronzes, mais vidas duras
Povo de muito brio são os acreanos
São guerreiros com dentaduras
Mantendo posses de espartanos
Instrumento na mão e ataduras
As árvores choram nos canos.

Peguei carona com canoeiro
Que ia pra Porto Velho, em Rondônia
Ele fez a armação, um poleiro
O cara tem cheiro  de amônia
Contou que um tempo, foi muleiro
Trocou a tropa pela índia Antonia.

O banguela, homem nojento
Morando num lugar gostoso
Com tanta água e ele fedorento
Como ser assim tão seboso
Ainda tinha em casa um pulguento
Que me ladrou muito furioso.

Conheci um produtor de soja
Homem rico de muito sorte
Gaúcho do Rio Grande, São Borja
Arma até os dentes, homem forte
Sujeito filiado a uma forja
Ele é um homem de grande porte.

Homem dentado a ouro dezoito
O empregado, não tem um dente
Mais é banguela muito afoito
O homem, quer ser presidente
Tem a fábrica de biscoito
Mais deixa empregado carente.

Saí dos pampas, vim ao Paraná
Gente bonita, mais banguela
Pelo furo imitava o sabiá
Um chupava uma siriguela
Com o bicudo de tamanduá
O desdentado entrou na ruela.

Sorte! peguei um resfri, que gripa
Em Santa Catarina, lindo!
Senti dor de dente em Floripa
O boca de ouro, está falindo
Comeu tainha e deu nó na tripa
Homem morrendo, mais latindo

Foi internado e escapou por pouco
Doendo ia a barriga e o peito chiava
Enfermeiro de ouvido mouco
Quando inspirava e o pulmão miava
O bicho gemia quase louco
Esperneou mais ninguém cuidava.

Peguei carona na carreta
Piloto, homem caridoso
Transportou sem fazer careta
Contou dos filhos, tá saudoso
Garantia tinha uma bereta
Vai para o Piauí, moço bondoso!

A viagem tá quase no final
Corri o Brasil feio lobisomem
No Maranhão recebi um sinal
Homens desdentados não comem
Passei pelo setor paroquial
Sortearam as vestes de um homem.

Sou El'Condor, homem que tem sonho
       Luiz, o pai dessa tal criatura
       Como sempre muito risonho
       Ontem, um jeca sem postura
       Não tenho mais dentes proponho
 A aDesão ao país da dentadura
    COnfesso, que fiquei tristonho
      Razão estética e da cultura.




























































































Nenhum comentário:

Postar um comentário