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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Ciranda de mim

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El'Condor de Oliveira

Ciranda de mim

Da areia já fui o grão, peneirado entre milhões
de um orgasmo gozado, um feto invisível
apenas um embrião com formato de girino
no astral estava escrito que seria um menino
um leão raivoso, lá do mês de agosto.
Do cometa apenas o pó dessa constelação astral
que no gozo já era recém preso ao cordão da aparência
na ciranda cirandei, fui pião bambeando
nos rodopios pelo chão mais na roda cirandei
na palma de uma mão.
Já nascido fui criança que mamava no choro
mais sempre havia consolo, rastejei como cobra
no tempo que engatinhava, o destino prevendo, teria de lutar
que o planeta sendo grandioso poderia até ter o tempo
mas não teria o lugar por que no espaço infinito
um esperma é só o pó.
Na infância decadente de uma ditadura febril
franzino corria de mim, com a magreza esquelética
da barriga grande vermil na soltura do vento
descalço nos caminhos onde havia os espinhos
ai, como cirandei com o fértil cocô dos caprinos
fui Rivelino, um craque no jogo de futebol com dedo,
na voz de Valdir Amaral.
Ai, como cirandei indo à escola, mas não aprendia o bê-a-bá
dos beliscões e da palmatória, cirandei no rouba bandeira
no jogo de bola de meia fui afamado com ela petecando,
na bolinha de gude quase não bilava, apenas chorava
como cirandei com badoque calangueando a triste vida.
Cirandei com o feixe de lenha e com a lata d'água na cabeça
e na sabatina de tabuada que com as mãos e olhos inchados
nunca acertava nove vezes nove e nas noites escuras
brindava a vida com os vaga-lumes
quando um jipe passava as sombras viravam tela de cinema
e nas noites enluaradas fazer o mestre mandar
na ciranda de roda cirandar, do mé-mé-quer-pão
correr desembestado até cansar.
Cirandei também nas pescarias para pegar piabas, quando
muito pegava era sanguessuga
como catei gabiraba e umbu, nisso cirandava
mais o tempo muda e a gente adolesce sem saber
e fica grande sem crescer, presta o serviço militar
vira homem e some pra começar outro cirandar.
Fui pavio do barbante segurando um cordel
na vida de um poeta que vive errante
o crime que comete com o lápis ou a caneta
na máquina de escrever ou mesmo no digital
um crime sempre comete é o crime da poesia
seguindo nesta ciranda, quantos cirandeis não narrei.